Sou totalmente a favor dos serviços de streaming, mas a verdade é que dei um tiro no pé

Por muito tempo cobicei ter uma coleção de vinis. Queria todos, até de bandas que não gostava. Mamonas Assassinas, por exemplo. Não me recordo qual foi à primeira bolacha que ouvi, mas me lembro de ir, quando criança, a casa de um amigo escutar os discos de sua irmã mais velha.
Passávamos à tarde toda curtindo Xou da Xuxa, U2 e um especial do Hollywood Rock. Até que um dia, a sister do brother chegou com o LP do filme Top Gun – Ases Indomáveis. Tom Cruise e a loira Kelly McGillis eram os modelos da capa. Foi uma festa. Como éramos fãs do filme, toda criança era, e tínhamos os bonecos e caças (aviões) de brinquedos do G. I. Joe foi preciso apenas rebatizar os soldadinhos para os nomes dos personagens do filme e brincar com direito a trilha sonora.
E que trilha sonora! Logo de cara, a faixa que abre o disco é a punch Danger Zone, de Kenny Logins. Deste álbum, gosto também de Through The Fire, do Larry Greene, e Heaven Your Eyes, da Loverboy e do hino Top Gun Anthem, de Harold Faltermeyer e Steve Stevens. Obviamente não posso deixar de citar a canção que fez uma geração inteira arrastar o c&#@ na brita, Take My Breath Away, da Berlin. Basta ouvir o “tom don don don don” da introdução para o coração apertar, contorcer e quase sair pela boca.
Eram bons tempos, porém caríssimo. Não eram todos que tinham acesso a esse tipo de mídia. Por este motivo e também por uma questão de espaço físico e com a chegada do arquivo digital, fui me desfazendo do que adquiri ao longo dos anos. Sobrei apenas com um e esse não dou, não emprestou e nem vendo. É o LP do filme Labamba. Acho o Ritchie Valens um máximo.
A questão é que dei um tiro no pé. Adoro e sou totalmente a favor dos serviços de streaming, por dar acesso a milhões de canções a qualquer pessoa. Sou usuário do Spotify e não há um dia sequer que não utilizo o serviço. Mas ouvir música atualmente não é a mesma coisa. Aquele momento particular de pegar, tocar, no álbum, retirar da capa, colocar para rodar, se sentar e dar total atenção à obra, não existe mais. E talvez essa seja a razão dos apaixonados por músicas estarem voltando a comprar vinis.
Ainda não é barato. A indústria fonográfica ainda não conseguiu emplacar o retorno da bolacha preta, até mesmo pelo fato de todos terem acesso à música gratuitamente, por meio da pirataria. E os serviços de streaming são muito mais baratos que um simples vinil. É claro que existem LPs baratos, mas tenho certeza que os que vai querer ouvir não são. O estado de conservação conta muito na hora do preço e peças raras como, The Freewheelin de Bob Dylan, Speedway de Elvis Presley e There Is A Happy Land de David Bowie, por exemplo, custam os olhos da cara.
Existem sebos com certo acervo considerável e feiras para garimpo. Caso prefira o ambiente online, também existem lojas especializadas no assunto. E além de gastar uma nota nos seus discos preferidos, não se esqueça de que será preciso um aparelho de som para ouvi-los. Em sites de vendas de usados como o Mercado Livre e OLX, encontram-se vários de todos os modelos e preços.
Apesar das dificuldades, ouvir Neil Young em vinil ao lado de quem você gosta vale muito a pena. Eu garanto.
Texto: Anderson Tissa
Revisão: Pedro Ivo